Ressonâncias da Amplidão
Ensaios sobre o espiritual na arte
Amor e Consciência

Seja muito bem vindo! Sim, você que está justamente lendo a estreia desta coluna que será publicada na primeira sexta-feira [dia de vênus] do mês. Trata-se de reflexões, pensamentos, poemas, opiniões, obras e manifestações artísticas sobre o imenso universo imaterial que nos circunda e afeta. Meu objetivo é iniciarmos juntos uma frutífera jornada para maior compreensão da nossa completa existência e consequentemente exercitar a expansão da consciência.

Nesta primeira edição, estrelando como convidada especial do mês temos: Carolina Oltra, artista chilena residente na Alemanha, maravilhosa companheira na arte pelo mundo. E ainda, aproveitando a data de hoje, 2 de fevereiro, celebremos através de obras nossa querida mãe d’água Yemanjá:

Salve, salve, salve rainha do mar!

Todos à bordo? Então vamos lá!

Cada vez que me refiro à espiritualidade é inevitável deixar de mencionar todos os conceitos de Amor. E olha só a feliz sincronicidade de ser o nome desta revista/editora de literatura e arte, justamente Philos, um dos significados de amor. Quem mais aqui também é apaixonado por etimologia?! Pois bem:

Philos é palavra com origem no grego que significa confiabilidade, tipo de amizade baseada na reciprocidade e confiança. Philia é amizade no grego moderno, amor pleno de companheirismo que foi desenvolvido conceitualmente por Aristóteles como lealdade aos amigos e à comunidade, requerendo igualdade e familiaridade. Espiritual: palavra que se origina no latim spiritualis ou spiritalis que serve para respiração, imaterial. Logo a espiritualidade pode ser definida como o impulso do ser em busca de significados que transcendam o tangível e portanto a si próprio.

Não consigo vislumbrar, sinceramente, uma abertura de consciência sem o desenvolvimento da espiritualidade e a expansão de ambas sem amor. Para empreender uma caminhada espiritual e atingir maior consciência [self– partícula divina em nós] que transcenda a mente/pensamento [ego-nossa condição humana encarnada] é necessário praticar o bem. Só o bem encontra o caminho certo, sem se preocupar em chegar a um destino específico e sim em desfrutar e aprender durante a caminhada. —E a Arte! A Arte é um bem que praticamos ao realizá-la com esmero, com as profundezas de nosso âmago e coração. A Arte também é caminho, nunca se esqueçam!

Já tive muitos mestres de arte, espiritualidade e amor, alguns conheci e convivi pessoalmente e outros me deixaram mensagens. Deixarei sempre a cada despedida fragmentos de alguns para reflexão. Uma boa estrela para todos e hasta la vista, março!

Carola Trimano


Todas as pessoas que viveram a dimensão do sagrado relatam esse acontecimento falando do amor, da paz e da beleza indiscritível que experimentaram. A consciência do sagrado sempre apreende essa realidade oculta ao olho profano do ego, mas visível ao olho sagrado do self, porque é um olhar que vê adiante e, assim, é capaz de transcender não só o pensamento racional, mas também a percepção sensorial.

Raïssa Cavalcante, escritora e psicoterapeuta fundadora do Instituto Anima de Sophia de arte, ciência e espiritualidade.

 

Atenta para as sutilezas
que não se dão em palavras
compreende o que não
se deixa capturar pelo entendimento.

Rumi, poeta e teólogo sufi-persa.

[…] Somente o amor ao próximo pode produzir as mudanças tão necessárias na qualidade de vida das pessoas, não apenas no aspecto de sobrevivência material, mas também na felicidade interna. […] Isto implica perceber nossas motivações egoístas por trás de quase tudo que fazemos, tendo sempre algum tipo de interesse. Sem a percepção não é possível a transformação. […] Se não acreditarmos na capacidade de autotransformação dos seres humanos para atenuar e abandonar as atitudes egoístas que tanto mal causam no mundo, como podemos esperar um futuro de paz e de prosperidade para a humanidade? […] Na medida em que nos transformamos, de seres absolutamente egoístas em pessoas minimamente altruístas, já estaremos contribuindo para um mundo onde a cooperação prevaleça sobre a competição. […] Abrindo caminho para que as gerações futuras possam encontrar um mundo mais fraterno e feliz. Acredite! É possivel. Comece por si mesmo.

Marcos Luís Borges de Resende, Diretor da Editora Teosófica, em sua Carta ao Leitor número 99, da Revista Sophia.

Carolina Oltra
Carolina Oltra

O espiritual na sua arte:

La naturaleza y entorno como experiencia espiritual y de conexión con lo divino, creando unidad. Cada obra o fotografía se convierten en notas y apuntes, con la esencia mística que subyace en la captura de momentos simples pero trascendentales a través del lente.

A natureza e os arredores como uma experiência espiritual e uma conexão com o divino, criando unidade. Cada trabalho ou fotografia se transforma em anotações e esboços, com a essência mística subjacente à captura de momentos simples, mas transcendentais, por meio das lentes.

Seu processo criativo:

La exploración de la conexión cuerpo-entorno-espiritual: busco una profunda exploración de cómo el cuerpo se relaciona no solo con su entorno físico, sino también con dimensiones espirituales. Esta búsqueda es a través de la mirada contemplativa con un registro fotográfico y pictórico (bitácora) expresivo,  buscando elementos identitarios que puedan encapsular la conexión única entre la persona y la naturaleza.

A exploração da conexão corpo-ambiente-espiritual: busco uma exploração profunda de como o corpo se relaciona não apenas com seu ambiente físico, mas também com as dimensões espirituais. Essa busca se dá por meio do olhar contemplativo com um expressivo registro fotográfico e pictórico (diário de bordo), procurando identificar elementos que possam encapsular a conexão única entre a pessoa e a natureza. 

Sua inspiração:

En lo cotidiano y en la naturaleza encuentro los espacios donde me conecto con las cosas simples. La relación con nuestro entorno se manifiesta en experiencias como sentir la propia respiración, la luz del amanecer, el aroma y la textura de una mandarina en la mano, la contemplación del reflejo de las cosas, y el contacto del agua en la piel. Cada experiencia diaria se convierte en una conexión intrínseca en la obra.

No cotidiano e na natureza, encontro os espaços onde me conecto com coisas simples. A relação com nosso ambiente se manifesta em experiências como sentir a própria respiração, a luz do amanhecer, o aroma e a textura de uma tangerina na mão, a contemplação do reflexo das coisas e o toque da água na pele. Cada experiência diária se torna uma conexão intrínseca com minha criação artística.

Uma cor: Azul cielo. [Verde do mar]

Um sabor: A miel. [Mel]

Uma sensação: 

Ser envuelto por una cálida brisa al atardecer.
Ser envolvido por uma brisa quente ao pôr do sol.

Um Som:

El sonido del agua corriendo.
O som da água corrente.

Sua mensagem:

“En la danza de la luz y la nostalgia, se entrelazan ritmos vibrantes que otorgan presencia a la naturaleza, componiendo así una sinfonía de conexiones.” La creación en el arte es el traductor de nuestro espíritu conectado a nuestro entorno, cada acción manifestando un todo de energía.

“Na dança da luz e da nostalgia, ritmos vibrantes se entrelaçam, dando presença à natureza, compondo assim uma sinfonia de conexões.” A criação na arte é o tradutor de nosso espírito conectado ao nosso ambiente, cada ação manifestando um todo de energia.

Triptico: Planta imaginada Antumbra, Penumbra y Umbra , Mixed-Media Fotografia sobre tela,120 x 80cm c/uno, 2023Obras son el registro fotográfico del proceso de crecimiento de la planta Puya, especie nativa y endémica de Chile, realizada en Alemania.
Triptico: Planta imaginada Antumbra, Penumbra y Umbra, Mixed-Media Fotografia sobre tela,120 x 80cm c/uno, 2023. Obras son el registro fotográfico del proceso de crecimiento de la planta Puya, especie nativa y endémica de Chile, realizada en Alemania.

Carolina Oltra, artista contemporânea e fotógrafa chilena residente na Alemanha, integrante ativa do coletivo Arsfactus e colaboradora do Finart e Casa Philos.

Carola Trimano, pelas lentes de Carolina Oltra (Residência Atlântica, 2019)

Carola Trimano, artista visual, arte-educadora e produtora cultural, coordena o atelier itinerante Pássaro de Papel e o Finart – Festival Internacional de Arte.


Descubra mais sobre Philos

Assine para receber os posts mais recentes por e-mail.

Publicado por:Philos

A revista das latinidades

O que você achou dessa leitura?